Monday, August 28, 2017

FILME: Batman & Harley Quinn (Batman e Arlequina)

Nota: 7 / 10

Posso parecer que estou louco, mas esta animação me fez sentir como se estivesse dormindo e, ao acordar, me vejo no final dos anos 90 de novo. Ou início dos anos 2000. Foi uma animação absolutamente movida pela nostalgia, pela paixão a um trabalho primoroso que deu muito certo, e pelos anos e anos que Bruce Timm esteve brilhantemente no comando do Batman.

Parece até que o tempo não passou. E apesar desta animação estar atrelada à série DCUAOM, ela também se qualifica como um retorno ao DCAU, que havia acabado em 2006. Os traços dos desenhos são idênticos, cuidadosamente reproduzidos aqui. Isso sem falar nas inúmeras referências! Pena que pára por aí. Apesar da nostalgia, a história é fraca.

Pra começar, eu vou mandar a indiferença crítica para a casa do Coringa e entorpecer minha voz, porque quem já leu algumas das minhas matérias sobre o Batman aqui no blog, sabe muitíssimo bem que Batman: The Animated Series é considerada por mim como a melhor versão do homem-morcego fora dos quadrinhos, ponto final. O meu amor, paixão, culto e devoção por esta série noventista do Batman é tamanha, que mesmo que eu quisesse esconder minha euforia por ela em algum momento, não conseguiria. Basta entrar aí no link da matéria sobre a série e ver que eu listei, mais ou menos, pouco mais de vinte, VINTE dos episódios desta série que eu considero os melhores. Dez deles não foram o bastante para mim! Tenho os DVDs da série toda, todos os quatro volumes, sei os episódios da série de cor, cresci com ela, fez parte integral da minha vida e do meu imaginário nerd, então, amigo, me sinto totalmente confortável para falar como quiser sobre este novo filme.

Bem, vamos começar do óbvio: é um filme relativamente divertido. Não é sombrio, até porque a Harley é uma das protagonistas ao lado do morcego! A introdução do filme inclusive deixa isso bem claro, ao caracterizar os personagens de forma cômica e caricatural, como um desenho animado dos Looney Tunes. Tem sim, os elementos sombrios, mas desta vez eles não são o foco.

Este é o mais novo roteiro original de Bruce Timm desde Justice League: Gods and Monsters. Acho ótimo que Timm esteja investindo seu talento em roteiros originais, ao invés de adaptações. O problema é que ainda aguardo Timm me aparecer com um novo filme ao estilo de Mask of the Phantasm, só que não vem, infelizmente.

O traço, como eu disse antes, é totalmente tirado do esteticismo de desenho da série The New Batman Adventures, que muita gente chama de a quarta temporada de Batman TAS. E quando a animação abre com seu primeiro quadro, você já nota de cara essa volta, essa viagem no tempo, ou então na trilha sonora, que contém elementos da trilha sensacional de Shirley Walker para a série animada. A trama é a seguinte: tudo acontece porque Pamela Isley, a Hera Venenosa, e Jason Woodrue, o Homem Florônico, decidem invadir o S.T.A.R. Labs de Gotham e roubar uma fórmula de restauração biológica inventada pelo Dr. Alec Holland; sim, ele, o Monstro do Pântano.

Batman e Asa Noturna dão uma passada no laboratório e decidem investigar toda a maracutaia. Eles então chegam à conclusão que precisam checar todos os ex-associados de Pamela, o que inclui uma certa capanga que tem trabalhado em uma lanchonete temática da DC e vivido sem contato com sua vida passada; sim, ela... a Arlequina. É aí que a criação de Bruce Timm entra na parada. Pena que não chamaram a Arleen Sorkin, a voz original dela, para dublá-la, ou então a Tara Strong, foram chamar a Melissa Rauch da série The Big Bang Theory, só que não ficou legal pra mim, ficou muito descaracterizado, comparado ao tom de voz que a gente reconhece quando vemos a Harley. Se tivessem reunido a Sorkin junto com a bat-voz clássica do Kevin Conroy, teria sido a sessão perfeita de nostalgia! Enfim, Batman vai à Argus, buscar alguns dados e um nome, enquanto Asa vai atrás da ex-namoradinha do Coringa.

Aqui começam a rolar algumas referências. Por exemplo, eu juro que vi o padre do episódio "It's Never Too Late" (Nunca é Tarde Demais) de Batman TAS, aquele com a perna de madeira, irmão do mafioso concorrente de Rupert Thorne, que tinha um filho numa clínica de recuperação de drogados, como uma das pessoas que o Asa perguntou sobre o paradeiro da Harley. Consegui identificá-lo no mesmo segundo que ele apareceu.

Também consegui identificar o jovem que Batman aborda no episódio "I Am The Night" (Eu Sou a Noite), quando Asa passa pelas ruas de Gotham, aquele que o morcego conseguiu endireitar no episódio. Ao chegar à lanchonete temática Superbabes que parece algo tirado de Kingdom Come (Reino do Amanhã), podemos ver várias garçonetes vestidas de Nevasca, Estelar, Supergirl, Batgirl, Poderosa, Mulher-Gato, entre outras personagens  da DC, e entre elas, a Harley original, com sua roupa dos Novos 52, mas só no começo, depois ela muda para o seu traje clássico, aquele da série animada.

Outra coisa que eu notei, é que Harley parece andar em um lugar de Gotham que parece muito com o Narrows, vizinhança da cidade criada no filme Batman Begins. Tem até lugar que vende falafel por lá.

Ops... tá ficando muito bat-geek essa resenha... hã-haamm... de volta à trama!

Asa segue Harley até o apartamento dela, e acende uma velha chama. A menina e ele acabam se estapeando, mas ela, mais esperta, nocauteia o ex-Robin e o arrasta para dentro de sua casa, o prendendo na cama. É aí que rola algo que muita gente achou... estranho... bem... hehehe... pra resumir, Harley começa a fazer insinuações ao menino-pássaro, até ver que o peruzinho dele está de pé e... é... pois é... os dois mandam ver na bagaça. Pronto, falei!

Puts, tá difícil mesmo ultimamente! Bruce Timm, meu camarada... minha vontade é de chegar no cara e perguntar se ele está desafogando agora tudo aquilo que ele não pôde fazer na série animada! Pensem bem... Batman e Batgirl em The Killing Joke... agora Harley e Asa... que raio de crise é essa que acometeu o universo animado, onde os casais mais improváveis acontecem? E como é que a gente finalmente tem a chance de ver o Coringa e a Harley em alguma "ação", se entendem o que eu digo, e o Dick acaba entrando no meio? Peraí, cadê meu pé-de-cabra? Vou matar mais um Robin aqui, depois dessa!

Ah, não precisa! O próprio morcegão se encarregou de dar uma dura no Asa. Melhor. Mas depois, a gente começa a perceber que o próprio Batman está tendo umas atitudes meio estranhas... como na cena que fecha para os créditos do filme, em que ele e o Asa acabam dando um beijinho em cada lado do rosto da Harley. Má... que isso, cara? Da última vez que eu me lembro, na série animada, Batman estava prendendo Harley no Arkham e dizendo "toma jeito, menina".

Enfim, os três inicialmente passeiam de batmóvel por aí, quando de repente eu vejo uma coisa que eu pensei que nunca iria ver em qualquer história do morcego: uma piada de flatulência! Sim, flatulência! Harley simplesmente resolve soltar gases fulminantes dentro do batmóvel! Não pegou lá muito bem esse lance, hein Bruce Timm! Ok, eu até reconheço que a Harley poderia sim fazer tal coisa, mas mesmo assim, não precisava rebaixar a qualidade do filme com esse tipo de piada.

A história em si é a investigação mais fraca e a trama mais básica que eu já vi o Timm escrever (sim, ele roteirizou e fez o teleplay); porém, temos que dar o devido mérito pra coisa toda, quando analisamos a fundo, e percebemos o óbvio: este filme foca em Harley Quinn. É a Arlequina aqui a personagem que ganha mais enfoque do que os demais. Claro, isso não significa que a trama seja uma jóia, é um tanto fraca, mas como um filme da Arlequina, funciona até que bem a proposta.

Porém, eu esperava um pouco mais, dado que temos o Bruce Timm na linha de frente. Só que parece que o cara resolveu somente se valer da nostalgia e da sua criação para ser o carro de frente do filme. Há uma outra parte do filme que é ótima, quando Batman, Harley e Asa param em um boteco de meio de estrada, e quando a gente entra, parece que estou vendo toda minha adolescência lá! Tem o Capitão Palhaço, o capanga robô do Coringa no episódio "The Last Laugh" (A Última Risada), tem um cara de terno e chapéu, o visual corriqueiro de capangas do mafioso Rupert Thorne, da escória de Gotham quando a série animada ainda passava, temos os gêmeos Min e Max, que eram capangas do Duas-Caras, temos o Ubu, capanga de Ras Al'Ghul, e muitos outros personagens clássicos da série animada, ou pelo menos o que provavelmete seja apenas uma referência visual de Timm deles; do contrário, eu creio que não estaríamos vendo a Maven, secretária da Selina Kyle, em um bar cheio de escória!

E pasmem!! Temos até mesmo uma referência escancarada do episódio "Harlequinade" (Arlequinana), onde a Harley fez um número musical! Me senti o tempo todo em um túnel do tempo, lembrando as tardes em que assistia a série do Batman na TV junto de meu irmão e meus pais, e por tudo isso, eu só tenho a agradecer ao Bruce Timm por se lembrar deste período tão bacana do Batman. Quando a Harley termina o número dela, tem uma parte bem divertida: os três partem para a pancada, e aí tem letreiro de porrada pipocando na tela bem ao estilo de homenagem à série sessentista de Adam West! Claro, meio zoado, visto que um dos letreiros é um gigante "OH MY BALLS!", que eu tenho certeza que deve ter sido coisa da Harley! Foi muito divertido, provavelmente a parte mais divertida de todo filme.

Por tudo isso, eu realmente não posso ser hipócrita e dizer que não me diverti com estes momentos do filme; me diverti pra caramba, essa é a verdade!

Mas, como um filme do morcego, eu esperava bem mais. O final, por exemplo, foi apressadamente resolvido, e isso eu achei muito chato! Parecia até que o Timm tinha se cansado ali mesmo e resolvido acabar tudo de uma vez. Desculpem, sou um enorme fã do Bruce Timm, e de tudo que esse cara genial realizou com o Batman durante estes anos todos. Porém, não posso tapar o sol com a peneira e não reconhecer que esta é a história mais fraca que o cara escreveu para o Batman. É um filme, ao meu ver, recomendado apenas para fãs da série animada, como eu; para outras pessoas, não tem como eu recomendar de forma alguma.

Se você é uma dessas pessoas que não conhece a Harley direito e esperava conhecê-la melhor aqui, sinto muito amigo, mas vai se decepcionar muito, e ainda corre o risco de nem sequer querer ir atrás da série animada, que como eu já falei, é a melhor coisa que já fizeram com o Batman em toda a história. Para você que é leigo, eu recomendo o episódio "Mad Love" (Louco Amor), de TNBA, este é o episódio que vai te colocar a par de muita coisa em relação à vilã, pois conta a origem dela. Diferente desse episódio clássico, este novo filme foi feito apenas para os fãs, onde Timm tira a oportunidade para brincar com estes personagens apenas, como se fosse uma reunião de amigos que não se viam há tempos, portanto, se você também sente falta da série animada, assista esta animação. Somente não espere por um conto épico e inesquecível, porque você vai se decepcionar.

Batman & Harley Quinn (2017)
Título em português BR: Batman e Arlequina

Direção: Sam Liu
Produção: Alan Burnett, Wes Gleason, Amy McKenna, Benjamin Melniker, Sam Register, Andrea Romano, Bruce Timm, Michael E. Uslan
Roteiro: Bruce Timm, James Krieg (baseado em personagens e histórias criados por Bill Finger, Bob Kane, Jerry Robinson, Bruce Timm, Paul Dini, Marv Wolfman, George Pérez, Len Wein, Sheldon Moldoff, Gil Kane, Gardner Fox, Robert Kanigher, Dick Giordano)
Trilha sonora: Kristopher Carter, Michael McCuistion, Lolita Ritmanis

Elenco de vozes do original: Kevin Conroy, Melissa Rauch, Paget Brewster, Loren Lester, Kevin Michael Richardson, Eric Bauza, Trevor Devall, John DiMaggio, Robin Atkin Downes, Rob Paulsen, Mindy Sterling, Bruce Timm

Para outros títulos da linha DCAU e DCUAOM, confira:

2 comments:

  1. O filme é lindo! filme traz uma nostalgia dos anos 90, e irá agradar principalmente os fãs mais velhos do morcegão. Com um tom mais adulto, o longa foca na união de Harley com Batman e Asa Noturna. Esse último se envolve intimamente com a psiquiatra (louca, criminosa e sexy). Quinn é praticamente a protagonista. A animação alterna entre drama, ação e comédia. O longa pode ser encarado como um episódio estendido do consagrado desenho de Timm. Um ponto negativo fica por conta da comédia, que extrapola um pouco, e o final fica apenas subentendido. A direção é de Sam Liu. Divertido, nostálgico e despretensioso, Batman e Arlequina: Pancadas e Risadas, vale a pena.

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    1. Que bom que você curtiu mais do que eu, Sofia. Mas é que eu ainda estou esperando pra ver se o Timm resolve voltar logo a fazer alguma coisa mais séria e épica do morcego, o cara tem tanto talento pra isso, mas enfim, vale pela diversão nostálgica.

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