Sunday, July 30, 2017

LIVRO: Batman: Arkham Knight - a novelização oficial - Marv Wolfman

Nota: 8,5 / 10

Durante muito tempo eu quis saber como era a última parte da série Batman: Arkham. Porém, dificuldades sempre me obrigaram a manter meu Xbox 360, não apostando tão cedo na compra de um Xbox One. Eu havia comprado então o game pela loja da Steam para jogar no meu PC, mas meu computador é de 2011, ou seja, não tinha os requisitos necessários; colocando nas configurações mínimas, o game ainda ficava uma carroça. Jogar no PC também estava, pelo menos por enquanto, fora de cogitação.

Portanto, até poder comprar uma máquina nova, eu resolvi apostar nesta bem vinda adaptação em livro da história do game, escrita pelo sensacional roteirista Marv Wolfman, baseado no texto de Sefton Hill, Ian Ball e Martin Lancaster. Resistindo à tentação de ver qualquer gameplay no Youtube, eu li esta ótima adaptação. E valeu muito a pena!


O interessante é o quanto que se torna fácil a experiência de ler algo assim quando você já tem total familiaridade com os personagens, tanto nas HQs, quanto nas animações. Mais do que isso: você emprega o recurso do "fazer as vozes" quando lê. Eu constantemente me pegava imitando a voz do Márcio Seixas, ou então do Kevin Conroy, todas as vezes que o Batman falava algo, ou também a voz de Mark Hamill, quando era o Coringa, ou pensava em diversas outras vozes destes personagens. Interessante fazer isso num livro.

Outra coisa interessante, é que, devido à alta familiaridade com o universo do Batman, a leitura se torna praticamente automática. Eu não tinha que ficar pensando muito para ler uma passagem, eu simplesmente lia algo, e a imagem já vinha completa na minha cabeça, com vozes, efeitos sonoros e tudo, se bobear, até trilha sonora tinha!

Claro, quando se trata de um personagem de quadrinhos, um livro não é a mídia mais apropriada. Nas HQs, há toda aquela estética visual proporcionada pelos desenhistas, e nas animações, games e filmes, há toda a proposta visual também que embeleza e dá toda a graça para a produção, então, caso alguém esteja se perguntando, SIM, eu preferiria estar jogando o game. Mas mesmo assim, o livro não deixa de ter seu nível de fascínio e estimular a imaginação como todo bom livro faz, e Marv Wolfman aqui faz um trabalho irrepreensível, adaptando a trama do game para o formato textual.

Sendo assim, eu finalmente fico sabendo como acabou a saga Batman: Arkham através deste livro, e vou contar um pouquinho aqui da experiência.

Os únicos momentos do livro que eu posso comparar com o game, são os que eu não resisti e vi, como o início, em que o corpo do Coringa é incinerado, e o número musical do Coringa-fantasma, como eu gosto de chamá-lo aqui nesta história. Fora esses dois pequenos trechos do game, não vi mais coisa alguma, então uma comparação com o roteiro original é impossível, mas eu sei que o Wolfman toma suas licenças poéticas para reescrever a história, o que não deixa de ser algo bacana. Como não dá para eu fazer grandes comparações, me aterei apenas à narrativa do livro.

E ela começa com a incineração do palhaço do crime. No livro temos mais detalhes, ficamos sabendo, por exemplo, que foi o Gordon em pessoa que apertou o botão para iniciar o processo. Isso não tem nesta passagem do game, que é muito mais divertida visualmente, porque enquanto o palhaço queima, fica tocando "I've Got You Under My Skin" do Frank Sinatra. Isso se torna divertido porque você tem aquele recurso do sarcasmo, vendo uma situação solene e trágica acontecendo com música alegre de fundo. Quando eu vi isso, na minha frustrada tentativa de jogar o game no meu PC, achei até que o Paul Dini teve participação no roteiro da história, porque o escritor detém um sarcasmo muito bacana quando escreve Batman, só depois que eu fui ver que ele não foi um dos roteiristas, mas isso é puro Paul Dini! Enfim, apesar do livro dar mais detalhes em relação ao momento, eu ainda prefiro a versão do game com a ilustre presença do Sinatra.

Enfim, corta para algum tempo depois, e Gotham vive uma relativa paz, quando o Espantalho acaba ameaçando a cidade, espalhando uma nova toxina do medo que iria dizimar a todos. O Espantalho aproveita a ocasião, porque com a morte do Coringa, os outros lunáticos estavam competindo para verem quem iria virar o novo senhor do crime de Gotham. Gordon tem sua força policial reduzida, e claro, conta com a inestimável ajuda do Cavaleiro das Trevas, numa tentativa desesperada de restaurar a ordem na cidade; a ameaça do mestre do medo provoca um êxodo em massa, as pessoas fogem de lá feito doidas, o que abre espaço para todo tipo de bandidagem.

Batman, por sua vez, conta com a ajuda sempre bem vinda da Oráculo, a Barbara Gordon, além de Lucius Fox, CEO das Indústrias Wayne e até mesmo da sacana da Hera Venenosa, que tem sua parte nessa história. Conforme a trama vai passando, descobrimos que existe outro aliado do Espantalho neste plano macabro, chamado de Arkham Knight, o personagem do título. Trata-se de alguém vestindo uma armadura muito parecida com a de Batman, inclusive com as orelhas, mas com a face toda fechada. Arkham Knight tem como objetivo matar o morcego por algo que ele alegadamente fez no passado. E eu não posso falar mais coisas do que isso porque senão vou estar dando um spoiler enorme de quem é realmente o Arkham Knight pra você. Se você lê quadrinhos como eu, então estes nomes serão suficientes: Jim Starling e Judd Winnick, dois autores muito famosos de histórias do morcego. E caso você já tenha somado dois mais dois, SIM, é ele mesmo! E não, não acontece como nos quadrinhos, o Coringa manda vídeos para o morcego.

E por falar no Coringa... sim, ele está aqui novamente! Mesmo mortaço depois de ter queimado no incinerador, o palhaço do crime ainda consegue aprontar das suas aqui neste game. Mas só o Batman pode vê-lo desta vez. É que é o seguinte: o sangue ruim do Coringa não foi eliminado totalmente ao final de Arkham City. Como resultado, ele tem sido usado para deixar outras pessoas loucas, e uma dessas pessoas afetadas foi o morcego. Só que ele não conta aos outros. Conforme o tempo passa, o sangue contaminado do Coringa no sistema do Batman vai tomando conta. Às vezes, o texto do livro descreve que o Batman fica com um tom esverdeado nos olhos. O Coringa, ou pelo menos a memória que o morcego tem dele, vai aparecendo e falando com ele, zombando, tirando sarro, e ameaçando tomar conta do corpo do morcego. Por isso, Batman tem que travar uma batalha dura e difícil dentro da sua cabeça para manter-se no controle. Quando Batman vê que está começando a pensar coisas estranhas, ou tendo atitudes muito extremas, ele respira e tenta se acalmar.

Tem uma cena, por exemplo, em que o Coringa faz um número musical enquanto Robin (Tim Drake) tenta desarmar uns contêineres. E esta é uma parte do livro que eu não resisti e acabei indo no Youtube para conferir! Hehehe! Mas só ela mesmo. Eu lia, e via a letra da música impressa nas páginas, mas puts, é o Coringa cantando! Eu tinha que ver isso pelo menos! E foi tão divertido quanto eu pensei que seria! Eu acompanhava a leitura do livro e ao mesmo tempo via o vídeo neste trecho.

Agora, uma parte mais dramática da história que eu achei muito bacana, foi quando o morcego não viu outra saída e teve que revelar a Gordon toda mentira que vinha sendo contada para ele durante tantos anos, tanto por parte da Barbara, quanto por parte do próprio morcego. O comissário pensava que sua filha tinha abandonado Gotham e estava segura, mas aí ela foi raptada lá da torre do relógio, e não podendo andar, ela não conseguiu fazer muita coisa. Batman conta que a filha de Gordon era a Batgirl, que ficou paralítica, que continuou ajudando o Batman como a Oráculo, etc, etc. Gordon tem um acesso de raiva que você não calcula ao descobrir tudo! Não quis nem mais conversa com o morcego. Achei interessante essa postura corajosa do Sefton Hill em colocar a confiança que Gordon tem do morcego em xeque, e ainda por cima colocar Barbara no meio do rolo. Foi um ótimo desenvolvimento.

O final da história não só é bacana pra caramba, como também enaltecedor, no que tange as habilidades de ilusão e teatralidade do morcego. Aquela esperteza dele em desaparecer. Ele também é meio ambíguo. No começo do livro, você recebe a informação de que esta é a história de como o Batman morreu. Mas ao completar a leitura, você se pega pensando: "sério mesmo que ele morreu? Hum..."; eu não sei como é no game, mas pra mim ficou muito claro aqui que talvez não tenha sido bem assim. Aqui vai um pouco de spoilers abaixo, ignore-os se não quiser saber como tudo termina!

------------- SPOILER ZONE -------------
Pois bem, o Espantalho captura Batman e revela em rede nacional que Batman é Bruce Wayne. No dia seguinte, quando tudo acaba, toda a imprensa está lá na mansão Wayne, e Batman chega em seu aeroplano. Ele retira a máscara para que todos vejam que é ele, Bruce Wayne, que está lá. Como um mágico ilusionista, ele cumprimenta Alfred, que pergunta se aquilo era mesmo necessário, e os dois caminham dentro da mansão e fecham a porta. A mansão explode! Sim, explode. Não sobra uma estrutura da casa de pé. Então a imprensa entende aquilo como um atentado que alguém provocou, e conclui que Batman e Bruce Wayne estavam mortos, mas no final da história, vemos que um bandido na rua é abordado por uma figura parecida com a de uma criatura que mete medo. Só posso concluir que Bruce e Alfred escaparam por uma saída de emergência e forjaram a própria morte, dando ao Batman, carta branca para agir quando e como quiser, agora que todos pensam que ele está morto. Bacana, não?!
------------- SPOILER ZONE -------------

Em resumo, a narrativa é muito boa. Você não cansa um segundo sequer de virar as páginas deste livro. Marv Wolfman narra com perfeição as cenas de ação que acontecem no game, prestando atenção em cada detalhe, e, acredito eu, tomando por base a própria experiência do autor jogando o game, é claro, mas de qualquer forma, uma excelente narrativa.

A história não chega a ser a melhor delas, desta série, a melhor narrativa ainda continua sendo Arkham City de longe, para mim foi não somente uma sequência espetacular ao primeiro game, como também uma das histórias mais completas do Batman já contadas em qualquer mídia. Porém, Arkham Knight entra pra mim aí como a terceira melhor história da quadrilogia, jogando Arkham Origins para o quarto lugar. Se você já jogou o game, talvez possa não ter tanto interesse assim em ler este livro, mas mesmo assim, eu recomendo a você, é uma boa leitura, e mesmo que você que jogou já saiba o que vai acontecer, vale pela ótima narrativa de Wolfman. Se você, assim como eu, não jogou pela dificuldade de console ou plataforma, então este livro é recomendadíssimo! Só nao espere add ons, com ele, hehehe!

Encerrando uma bem sucedida série e um ótimo universo do Batman, Batman: Arkham Knight é uma história marcante, e que qualquer fã do homem-morcego deve ir atrás.

Batman: Arkham Knight (2015)
Título em português BR: Batman: Arkham Knight
Novelização oficial do videogame.

Escrito por: Marv Wolfman (baseado em roteiro de videogame escrito por Sefton Hill, Ian Ball e Martin Lancaster, baseado em personagens e histórias criados por Bill Finger, Bob Kane, Jerry Robinson, Alan Moore, Gerry Conway, Jim Starling, Judd Winnick e muitos outros)


Todo o universo multimídia de Batman: Arkham:

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