Monday, April 24, 2017

FILME: The Fugitive (O Fugitivo)

Nota: 10 / 10

No início do ano, eu fiz um editorial dizendo que eu gostaria muito de fazer artigos sobre filmes e outras coisas mais clássicas e que não estavam muito em voga hoje em dia, mas que eu considero importantes, ou que tiveram algum efeito positivo sobre mim. Vou tentar começar a fazer isso a partir de agora, só não garanto a frequência com que será feito.

E vou começar com o filme que me fez olhar para qualquer outro do gênero thriller de suspense e pensar "nossa, achei bem legal até, mas não é como o Harrison Ford sendo perseguido pelo Tommy Lee Jones". Eu estou falando de um dos filmes mais importantes dos anos 90, The Fugitive, de 1993. Trata-se de uma adaptação de um seriado de 1963 e que foi até 1967, criado por Roy Huggins, e que foi um caso interessante na TV de série que passou pela transição da TV em preto e branco para a colorida.

Eu só fui assistir este seriado após muito tempo, e ele é muito, muito bom, apesar de durar tempo demais. Originalmente concebido como uma trama noir, onde o personagem principal passaria por diversas circunstâncias, sempre fugindo de seus perseguidores, e com uma duração de 4 temporadas, sendo a última a cores, a história ganhou vários admiradores ao longo dos anos, mas depois de algumas décadas, acabou sendo meio esquecida pelo grande público. Eu mesmo só fui saber dela muito tempo depois de ver o filme de 1993, após uma década inteira, para ser exato. O que trouxe a série de volta à memória dos fãs foi este filme de Andrew Davis.

O filme é conhecido por ser uma das primeiras tentativas de Hollywood começar um padrão de adaptar séries antigas para filmes, o que, a história nos ensina, não deu muito certo. Mas este filme aqui baseado na série sessentista ficou tão bom, mas tão bom, que ganhou até mesmo citações em diversas outras produções e mídias. Eu ainda me arrisco a dizer que o filme corta muito daquele marasmo de você ver o personagem principal fugindo pra tudo quanto é lado, e vai direto na ideia principal, que é a perseguição e as consequências disso, e ainda, a investigação do caso de assassinato.

Eu sou um grande fã deste filme, já o tendo assistido incontáveis vezes, portanto vocês não reparem se eu começar a soar meio geek ou exaltado na hora que estiver falando da trama. Já fazia praticamente uma década que Harrison Ford não era mais o Han Solo de Star Wars (até voltar em 2015), e há quase 4 anos, já deixara de ser o Indiana Jones (até voltar em 2008), portanto, ele precisava se manter com papéis bons em filmes importantes, como seu Jack Ryan em Patriot Games (Jogos Patrióticos), de 1992, aliás, outro filmaço! Foi aí que lhe veio a chance de participar desta adaptação da série de 63; e Ford simplesmente arrebentou neste papel, melhorando vários aspectos do personagem de David Janssen na série.

Para outros geeks como eu, algumas diferenças entre a série e o filme: no filme, o fugitivo passa a ser um grande cirurgião vascular, e não somente um pediatra como na série. Também o policial passa a ser um marshall, um grande xerife da cidade, e não somente um policial de grau menor como na série. Tudo é ampliado de forma a aumentar a gravidade e a magnitude da história original.

A trama começa com a prisão do cirurgião Richard Kimble, interpretado por Harrison Ford, acusado de ter matado sua própria esposa, Helen Kimble, interpretada por Sela Ward. Através de uma gravação telefônica, a polícia e o juri declaram o médico culpado do crime e o sentenciam à morte por injeção letal, ao mesmo tempo em que vemos, através de cenas de flashback, que ele é na verdade inocente. O mistério então está em torno de descobrirmos o verdadeiro culpado do crime de homicídio cometido na casa do cirurgião e as razões por trás do crime.

Kimble tem um amigo que também é médico, o dr. Charles Nichols, interpretado por Jeroen Krabbé, e que eventualmente o ajuda durante a trama, e ele topa com a médica Anne Eastman, interpretada por Julianne Moore, que não sabe exatamente o que está se passando quando o vê, mas o acaba ajudando indiretamente. Quando o ônibus (na série era um trem) de presos está levando os condenados, escoltados pela polícia, ele sofre um acidente no meio da estrada e capota, dando a deixa para que os prisioneiros sobreviventes escapem, incluindo o doutor. Ele então foge, e vira um fugitivo, passando a ser perseguido pelo marshall Samuel Gerard (na série era Philip Gerard), interpretado por Tommy Lee Jones; sou um grande fã deste ator. Gerard neste filme não está sozinho, tendo toda a força policial a sua disposição, contando aí com seu parceiro Cosmo Renfro, interpretado por Joe Pantoliano, Biggs, interpretado por Daniel Roebuck, e a assistente Poole, interpretada pela simpática L. Scott Caldwell. Como podemos ver, o elenco deste filme é nada mais, nada menos do que estelar, somente atores bem conhecidos, e excelentes!

Bem, após o ônibus capotar e soltar alguns presos, tem início o jogo de gato e rato. E eu devo dizer, é o melhor que você pode imaginar! Kimble não é somente um médico muito habilidoso e excelente, mas também um mestre na arte de escapar e desaparecer. A polícia do filme, mesmo contando com oficiais habilidosos, fica sem fôlego com o médico, perdendo ele constantemente de vista, como na divertida cena do desfile de Dia de São Patrício. Mas claro você uma hora acaba topando com seus perseguidores, seja de uma forma ou de outra. Durante o filme, a perseguição, em sua maior parte se mantém em alta octanagem, e quando eu quero dizer alta octanagem, não é como nos filmes de Jason Bourne, onde tudo é frenético, mas os personagens estão sempre tentando um estar a cinco passos a frente do outro.

Tem também outro trecho fantástico, em que Kimble retorna ao hospital em que trabalhava como um faxineiro (UM FAXINEIRO!), e ninguém o reconhece por causa da mudança de aparência! Ele entra disfarçado lá só para pegar dados em um computador e sair, mas no processo, acaba ajudando um menino com uma cirurgia arriscada, e quase acaba sendo pego por isso. Quase! O filme é recheado desses momentos em que você segura o fôlego e pensa: "ufa!! Essa foi por um triz!"

O clima de suspense só é aliviado algumas vezes, em que podemos ver a polícia de forma mais descontraída, mas fora isso, o suspense e a tensão se mantém constantemente, como em um bom filme de Alfred Hitchcock. Gerard se mostra um perseguidor implacável, incansável e obsessivo. Ele muitas vezes chega muito perto de pegar Kimble, tendo o doutor até mesmo na mira de sua arma, facilmente podendo alvejá-lo à queima roupa, mas o doutor sempre encontra um jeito de escapar.

Tem uma cena fantástica, por exemplo, em um esgoto, onde Kimble aponta a arma para Gerard e grita "eu não matei minha mulher", ao que o policial responde "eu não me importo", e logo após isso, os dois se encontram novamente, na saída, onde a água desemboca em um riacho, Gerard tem novamente Kimble por perto, desta vez na mira de sua arma, mas o médico dá um salto e desaparece no meio das águas, o que faz com que Gerard queira passar a noite dragando o rio para tentar achá-lo e ver se ele não foi comido por um tubarão. É tenso assim!

Em outros momentos, Kimble procura ficar às escondidas e se manter longe do olho público, procurando alguma pousada para descansar, um lugar mais isolado, ou então uma outra ocupação em que as pessoas não o notem, como descrito acima. Ele também, como já ilustrei, muda bastante sua aparência, raspando toda sua barba e tingindo o cabelo, mudando o penteado, enfim, se bobear, até mesmo o Batman iria ter dificuldades para encontrá-lo. Só que a polícia está sempre em seu encalço, atrás de alguma pista que leve ao pobre médico.

A trilha sonora escrita por James Newton Howard também é fabulosa, e ajuda a contar a história, impondo tensão e urgência nos momentos certos, e pontuando muito bem como os personagens se sentem em determinadas horas. Kimble, por exemplo, é uma pessoa contida, honesta, que não quer prejudicar os outros, nem estar do lado errado da lei; para ele, tudo isso representa um grande infortúnio. Só que ele também não quer ser condenado por um crime que não cometeu, então usa-se de toda sua esperteza e artifícios para escapar das garras da lei e trazer os verdadeiros culpados à justiça, até mesmo para limpar seu próprio nome.

Do outro lado, Gerard faz seu papel de policial que faz cumprir a lei. Como eu mostrei acima, ele não se importa se Kimble é ou não é o responsável pela morte da esposa, o que ele deseja é fazer o certo, fazer com que a lei valha para todos, e se o médico foi condenado por um tribunal, para ele, é lógico que Kimble tenha culpa no cartório, e nada mais justo do que mostrar a ele, e à sociedade, que ninguém está acima da lei. Gerard não tem culpa do que está acontecendo a Kimble, muito menos responsabilidade pela sua condenação. Ele faz o seu trabalho da melhor forma que pode, e espera que os outros também cumpram com suas respectivas partes, demonstrando excelência no que fazem; tanto é, que quando ele assume a investigação, tira o maior sarro com o cara que "urduurr... não quer ficar recebendo um monte de ligações na mesa dele por causa de um condenado desaparecido e aparentemente morto". Gerard é deliciosamente irônico: "oh, eu detestaria ver isso acontecer com você, meu caro, é por isso que eu estou assumindo essa investigação!" Ao vivo! TOMA, TROUXA!

Desta maneira, você, telespectador, acaba ficando dividido, tendo dificuldades em assumir lados, pelo menos é o que acontece comigo. Eu torço muito para que não peguem Kimble, para que seja possível ele provar sua inocência diante do juri, ao mesmo tempo que eu não desejo ver os homens da lei perdendo o jogo também, afinal de contas, eles são os mocinhos, mesmo que acabem saindo atrás do cara errado.

Mas isso é algo que Kimble consegue administrar ao longo da trama. Entre escapadas aqui e ali, ele consegue, usando de toda sua habilidade e engenhosidade, reunir pistas, como se jogasse migalhas de pão pelo caminho, para que a polícia siga, conseguindo assim levar eles ao real assassino, o emblemático homem de um braço só. Não só isso! Ele também o confronta, cara a cara, em uma luta de braço! Batman morreria de inveja!

Há também uma reviravolta surpreendente no filme envolvendo traição. E quando ela ocorre, o tratante acaba virando outra coisa completamente. Você praticamente não suspeita desta pessoa, até um determinado ponto do filme, quando uma hora, acaba ficando meio óbvio, mas até este momento, o twist é bem interessante.

O filme trouxe a atenção de muita gente à série sessentista novamente, mas também conseguiu, com todos os méritos, se erguer como uma produção que se auto-sustenta, ou seja, que você não precisa ter conhecimento prévio do seriado para assistir. Sem contar que esta adaptação conta com a produção do próprio Roy Huggins, aprovando a ideia aqui de adaptarem sua criação, e nada melhor do que o próprio pai da criança para garantir a qualidade! É um filme muito excitante, emocionante, muito bem filmado e fotografado, com um score sensacional, atores do mais alto escalão em interpretações magistrais, e cenas absolutamente memoráveis, algumas das melhores que o cinema hollywoodiano já produziu.

O filme teve uma espécie de sequência, chamada U.S. Marshals (Os Federais), de 1998, dirigido desta vez por Stuart Baird, desta vez envolvendo a perseguição de um outro fugitivo, e tendo desta vez como foco, Tommy Lee Jones e a polícia, e co-estrelando Robert Downey Jr. em início de carreira. Mas esta sequência não foi tão bem recebida. Eu gosto bastante dela, muito embora não tenha realmente a mesma qualidade do filme de Andrew Davis. Lee Jones volta como o xerife Gerard, e quase tudo se repete de novo, mas é como se fosse uma versão inferior da trama do primeiro; tem até outro caso de traição. Talvez uma hora eu resolva falar dela também.

Enfim, The Fugitive, para mim, é o thriller para acabar com todos os outros thrillers de suspense, ação e drama; inteligente, dinâmico, tenso, e com excelentes momentos, que vão te deixar afoito, e doido para assistir a tudo outra vez, somente para conferir os melhores momentos, momentos estes, inclusive, que não faltam no filme. Isso sem falar que este é um dos raríssimos casos em que a adaptação supera a obra original com louvores. Se você nunca assistiu a este filmaço de Harrison Ford e Tommy Lee Jones, corra assistir, aproveite o próximo fim de semana, ou próximo feriado, e confira. Não precisa agradecer. Muito antes de Jason Bourne começar a sua correria alucinante, este filme já estava mantendo muita gente com os olhos pregados na tela, aguardando pela próxima façanha do dr. Kimble e do xerife Gerard. Eu tenho vívidas memórias de ter assistido este filme incontáveis vezes na TV junto com meus pais e curtido cada momento como se fosse a primeira vez, sempre que reassistia à reprise. Uma ótima sugestão para você curtir o cinema clássico de ação.

The Fugitive (1993)
Título em português BR: O Fugitivo

Direção: Andrew Davis
Produção: Arnold Kopelson, Roy Huggins, Keith Barish, Stephen Joel Brown, Nana Greenwald, Peter Macgregor-Scott
Roteiro: Jeb Stuart, David Twohy (baseado na série The Fugitive, de 1963, criada por Roy Huggins)
Trilha sonora: James Newton Howard

Estrelando: Harrison Ford, Tommy Lee Jones, Sela Ward, Joe Pantoliano, Daniel Roebuck, L. Scott Caldwell, Jeroen Krabbé, Julianne Moore, Andreas Katsulas, Tom Wood, Ron Dean, Joseph F. Kosala

Outros filmes desta cinessérie:
- U.S. Marshals (Os Federais) (1998)
- The Fugitive (O Fugitivo) (1993)

Trailer:

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