Wednesday, August 5, 2015

LIVRO: Le Petit Prince (O Pequeno Príncipe) - Antoine de Saint-Exupéry

Estes últimos dias, fui lembrado por um amigo que haverá um filme baseado na obra de Antoine de Saint-Exupéry. Na verdade é uma pessoa que eu não vejo com tanta frequência, mas o considero como um amigo mesmo assim, até mesmo porque apesar da distância de contato, nas poucas vezes que o vi, achei a sua expressão honesta e seu trato caloroso. Além disso, lhe sou grato por este lembrete, que me levou a revisitar esta obra do escritor francês que já não lia desde criança e redescobri-la. Enquanto a redescobria, tive sensação de escutar quinhentos milhões de guizos conforme virava as páginas.

Algo que pode ser dito sobre o livro, que foi escrito dois anos antes da Segunda Guerra Mundial terminar, é que contextualmente, ele é em partes a experiência pessoal do escritor francês exilado nos EUA, com suas viagens ao deserto do Sahara e sua experiência com a fome, a sede e a ausência de calor humano. Tudo isso é bem refletido na obra.

Mas eu gostaria de, por um breve momento, me despir do contexto de "gente grande" para falar com o coração aberto, pois é assim que o protagonista da obra enxerga a tudo e a todos, com o coração. Mas nem por isso ele se desvencilha de pensamentos filosóficos e profundos que nos incomodam e nos colocam para questionar as coisas para as quais damos mais importância na vida.

O livro é enxergado constantemente como um livro infantil. Quem diz isso não está longe da razão, mas seria presunção demais dizer que somente as crianças podem lê-lo.

É um livro para as pessoas que tem disposição de, por um breve momento, voltar a enxergar o mundo de maneira inocente. Somente munidos dessa inocência é que verdadeiramente poderemos nos emocionar com os desdobramentos e aventuras do menino de outro planeta.

Eu falo muito de super-heróis aqui no blog. Gosto de quadrinhos e especialmente de quadrinhos de super-heróis. Mas este menino de outro planeta não tem nada de super-herói. Ele não tem uma capa vermelha ou um S no peito, nem atira lasers pelos olhos ou congela lagos com o sopro. Ele não tem super-força ou super-velocidade, nem foi mordido por uma aranha, ou se tornou um expert em artes marciais e criminologia. Ele não veio salvar a humanidade de um perigo iminente.

Espere aí... essa última parte eu acho que vale sim! Mas não à moda dos super-heróis!

Ele é um menino curioso. Muito curioso. Inquisitivo, doce, puro e inocente. Tem um planeta pequeno como casa e três vulcões, um deles extinto. E uma flor. Uma flor que ele rega e cuida todos os dias, enquanto gosta de se sentar para apreciar o pôr-do-sol.

Um belo dia ele deixa tudo e resolve viajar pela galáxia. Encontra vários planetas, e nesses planetas, tipos bem estranhos. Aos poucos ele vai conhecendo esses tipos e avaliando suas personalidades extravagantes, até que ele vem à Terra. Aqui em nosso planeta, ele faz amizade com uma raposa e um homem que é piloto. O homem teve uma pane no avião e pousou em meio ao deserto. Enquanto tenta consertar sua máquina voadora, este homem cria laços de amizade com o menino alienígena e redescobre sua própria inocência e as coisas que deixou para trás.

Através do menino, as crianças que lerem o livro se identificam com sua atitude inocente e acalentadora. Ele fala com o coração, como uma criança faz. Nunca desiste de uma pergunta e conquista o coração do homem pela sua doçura e risada.

Os adultos então ficam com a figura do homem moderno. Aquele que cada vez menos tempo tem para apreciar as coisas, que deixa de viver e fica dependente de seu trabalho e compromissos. Aquele que esquece que um dia foi criança. A redescoberta do olhar simples da vida através do menino aquece a alma do rapaz que, comovido, por vezes não encontra palavras para se dirigir ao garoto.

O homem escuta atentamente a trajetória do menino em sua visita entre os planetas. Os tipos variam entre um monarca sem súditos, um vaidoso, um bêbado, um empresário que conta estrelas, um acendedor de luminárias de rua que vive em um planeta onde um dia inteiro tem um minuto de duração, e um geógrafo que não conhece o próprio planeta onde vive.

Percebam todos as sutis críticas à triste vida que nós, habitantes de nosso próprio e grande planeta, levamos. Temos um homem que tem poder, mas ninguém para comandar; temos alguém que se admira mas ninguém em volta para admirá-lo; alguém que bebe para esquecer o quão triste é; alguém que acumula falsas riquezas; alguém que não tem tempo de descansar devido à seu trabalho; e por último, alguém que tem conhecimento mas não o põe em prática.

Cada habitante vive em seu próprio planeta, sozinho, isolado. Os planetas são como ilhas que dividem cada uma destas pessoas. Vivemos aqui assim também, rodeados de nossas próprias ilhas, em nossos individualismos, nossa ânsia pelo poder, conhecimento, beleza, sucesso profissional... e esquecemos completamente do mundo maravilhoso e das pequenas coisas que nos rodeiam. Pior... só vamos lembrar delas quando já não estão mais ali.

E entre muitas coisas, esquecemos que, somente ao sair de nossas ilhas e cativar verdadeiramente as pessoas, é que passamos a reconhecer o sentido verdadeiro de criar laços, de nos conectar, de deixar nosso melancólico isolamento para descobrir que a vida só vale a pena ser vivida se for junto de outras pessoas. E este passa a ser o "poder" deste menino alienígena, o poder do amor universal e da união destes laços.

Desta forma, a despedida deste homem e do menino nos aquece o coração e nos remete à nossa própria e simples existência. Um grande amargor se cria em volta de nossa garganta enquanto testemunhamos o crepúsculo do belo e inocente em troca do sintético e efêmero. O desfecho emociona e nos faz pensar se não seria melhor, pelo menos por um momento em nossas vidas, termos tempo para voltar nossos olhos ao que é verdadeiramente infinito e belo; em outras palavras, deixarmos de lado as coisas que achamos por alguma razão que são importantes para nos dedicarmos ao que realmente é importante em nossas vidas, àquilo que verdadeiramente nos irá preencher de contentamento: os laços.

Desta forma, o livro, que é curto, de rápida leitura e com belíssimas ilustrações desenvolvidas pelo próprio autor, se torna uma lição de vida para os crescidos e uma importante leitura aos pequenos para que, desde cedo, nunca se esqueçam de, quando crescerem, jamais deixarem que se apague esta chama tão importante da infância, esta chama que carrega o homem ao final de sua aventura de vida e que lhe dará satisfação plena de, um dia, se tornar uma estrela no céu para que outras pessoas ao olharem, também possam sorrir.

De fato, este livro verdadeiramente me cativou. E como somos responsáveis por aquilo que cativamos, eu venho recomendar esta leitura para todos os meus amigos para que os laços sempre permaneçam inquebráveis.

Le Petit Prince (1943)
Título em português BR: O Pequeno Príncipe
Nota: 10 / 10

Escrito por: Antoine de Saint-Exupéry

No comments:

Post a Comment