Tuesday, March 24, 2015

FILME: Roma Città Aperta (Roma, Cidade Aberta)

O cinema clássico italiano é recheado daqueles filmes cujas temáticas recorrentes são a guerra e os costumes locais. Costuma-se associar bastante esse período em particular com o movimento neorrealista, movimento este que tinha como intuito pintar a realidade como ela é, que, embora tenha durado pouco, representou algo de uma intensidade monstruosa para as pessoas que conheceram a época do fascismo, durante o período da Segunda Guerra Mundial. O diretor Roberto Rosselini é bastante lembrado por esses tipos de filmes com a quase ausência de atores profissionais, como Germania, Anno Zero (Alemanha, Ano Zero) e Stromboli, com sua esposa Ingrid Bergman, que retratam a realidade de uma maneira muito intensa, tão intensa que praticamente some-se a existência da quarta parede, característica tão marcante no cinema de ficção.

Embora Rosselini tenha deixado uma história póstuma para um filme de 2008, L'ultimo Pulcinella, que estreou somente na Itália e na Hungria, seu cinema clássico que se mescla tão bem com o nosso mundo, ainda continua forte e vibrante na memória dos que acompanharam sua trajetória. Roma Città Aperta, de 1945, parceria de Rosselini escrevendo o roteiro com outra lenda do cinema italiano, Federico Fellini, é  o retrato de uma Itália vivendo o horror das invasões alemãs e do nazismo.

O título refere-se à situação de não-resistência à influência do exército alemão no lugar. Em troca de não ser bombardeada, os romanos teriam que arcar com a tortura, o barbarismo e os maus tratos de soldados alemães, sem falar da escassez de alimentos e de serviços básicos. Focos de resistência permaneciam na cidade sendo perseguidos. O recorte de um pequeno povoado da cidade inclui um homem do clero, Padre Pietro, uma viúva, um ateísta e um líder da resistência contra o exército alemão, Giorgio, ao qual o Padre oferece seus serviços. A boa ação acaba tendo consequências desastrosas para todos, com um deles sendo torturado e o outro executado pelo exército.

As cenas de tortura são fortes, e apesar de na maioria das vezes não vermos nada, somente os gritos que emanam da câmara onde está Giorgio já arrepiam e causam terror nos olhos de quem o acompanha. O filme passa longe da categoria entretenimento, sendo realmente uma obra para chocar e mostrar uma realidade triste e dolorida para as pessoas que a viveram. Filmes independentes neorrealistas desta época não costumavam fazer muito sucesso em seu próprio país, e após ver Roma Città Aperta, entende-se o porquê, uma vez que o próprio povo italiano estava inserido naquela difícil situação. Diz-se que o cinema de uma nação ilustra a própria realidade em que ela pertence. Sendo assim, é impossível dissociar Roma Città Aperta de ser um grande expoente de seu tempo e um grande alerta às pessoas que reverbera ainda nos dias de hoje, com o retorno da discussão sobre a ditadura e o comunismo.

É, sem sombra de dúvida, um filme muito bom e corajoso, um momento único e muito marcante na filmografia mundial, agraciado por cineastas de peso, como Martin Scorcese, mas ao mesmo tempo, é um filme pesado, frio e somente para aquelas pessoas que tem estômago forte. O retrato sombrio que Rosselini pinta desta realidade sempre assombra o espírito e traz o alerta para aqueles que acham que essa realidade hoje não seria possível, como um outro filme, este alemão, que retoma o tema, Die Welle (A Onda) de 2008 vem nos lembrar.

Roma Città Aperta (1945)
Título em português BR: Roma, Cidade Aberta
Nota: 10 / 10

Direção: Roberto Rosselini
Produção: Giuseppe Amato, Ferruccio De Martino, Rod E. Geiger, Roberto Rossellini
Roteiro: Sergio Amidei, Federico Fellini, Roberto Rossellini, Alberto Consiglio
Trilha sonora: Renzo Rossellini

Estrelando: Aldo Fabrizi, Anna Magnani, Marcello Pagliero, Vito Annichiarico, Nando Bruno, Harry Feist, Giovanna Galletti, Francesco Grandjacquet, Carla Rovere

Trailer:

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