Thursday, November 4, 2004

CD: Feel Euphoria - Spock's Beard

É realmente impressionante a forma como o Spock's Beard está espelhando o que aconteceu com o Genesis na metade dos anos 70. Após a perda de Neal Morse, que achou Jesus e se converteu ao cristianismo, Nick D'Virgilio, o baterista do grupo divide suas funções dentro da banda e, ao mesmo tempo, toca bateria e vai para o front, cantar. Ou seja, faz o que se convencionou chamar de "manobra Phil Collins". Se isto será coincidência demais ou intencional é difícil dizer no momento, o que é digno de nota aqui é que, assim como o Genesis, o Beard achou sobrevida após a saída de seu integrante mais importante.

Talvez a única diferença de uma banda para outra até então é que infelizmente não houve turnê do disco Snow após a saída de Morse. Pena, porque jamais poderemos ver a banda tocando esse ótimo disco ao vivo. Ao invés disso, resolveram seguir gravando um disco novo com a nova formação de quarteto. Assim como no Genesis, é uma oportunidade interessante de escutar a banda sem as influências de seu principal mentor. Poderia o novo disco ser o A Trick Of The Tail dos rapazes estadunidenses? Vamos ver. Claro que como não se tem mais Neal Morse compondo quase tudo, mudanças na sonoridade seriam profundamente sentidas.

A começar por "Onomatopoeia", onde a banda está soando bem Foo Fighters, o que já é uma surpresa. A música em si é um hard-grunge bem na cara mesmo, pesadona, algo que causa até mesmo um estranhamento. Percebe-se que até a guitarra de Alan está mais agressiva, mais suja e mais na cara do que antes. E Nick? Uau! Tem um gogó que daria inveja ao próprio Dave Ghrol! "The Bottom Line" já parece querer alertar à todos que a banda continua sendo de Rock Progressivo, claro que algumas mudanças são sentidas, mas em essência é o que a banda fazia antes de Neal sair. Nesta eles estão soando bem Marillion, com um peso a mais. As texturas sonoras estão muito alteradas à partir daqui, é incrível como se pode sentir uma outra atmosfera.

E o que dizer da faixa título, "Feel Euphoria"? Bem, traduzindo em poucas palavras, se antes do lançamento alguém viesse me mostrar esta música dizendo que se tratava de uma faixa perdida do Rage Against The Machine eu acreditaria! Cem por cento! Parece que o grupo está sentindo uma necessidade de mostrar a todos um novo direcionamento, como se dissessem "olhem, somos os mesmos e tal, mas podemos fazer nosso próprio som, nunca fomos apenas a banda de apoio de Neal Morse".

Com "Shining Star", nossos amigos tentam escrever a música de rádio ideal, aquela que todo mundo escuta, mesmo quem não conhece a banda. E chega até perto da sonoridade de um Pearl Jam ou Alice In Chains. Nada de mirabolante, mas agradável de escutar, só difícil de rotular como Spock's Beard ainda. A próxima, "East Of Eden, West Of Memphis", começa com uma sonoridade meio Radiohead, mas logo transforma-se na típica música que o Beard vinha fazendo com Morse, aquela com passagens quebradas, melodias mirabolantes, influências de Genesis, Yes, Marillion, ELP, e pra completar, um tremendo solo de Ryo, pondo pra fora tudo que ele conhece de Keith Emerson! Agora estou reconhecendo a banda que escutei pela última vez no disco Snow, apesar da atmosfera sonora meio diferente! Alan também manda um solo destruidor! Depois de um tempo você até espera que Neal comece a cantar, mas no fim a banda põe um efeito de rádio repetindo a primeira estrofe.

A seguir, a belíssima "Ghosts Of Autumn" reforça novamente que ainda estamos escutando um disco do Spock's Beard. Seus arranjos melódicos são simplesmente maravilhosos, e Ryo manda muito bem aqui no piano, as influências de Jehtro Tull, Caravan e outras de prog-folk se fazem bem presentes. Alan põe aqui todo seu sentimento em um solo belíssimo, e Nick canta de maneira bem introspectiva.

Então, vem o momento que todos esperavam: o épico! E que épico!! As seis faixas que compõem "A Guy Named Sid" são simplesmente de deixar qualquer fã de progressivo com um belo sorriso na cara! Começa em "Intro", com um efeito de teclado e cai para uma instrumentação impecável, bem funkeada, com riffs furiosos e matadores de Alan e um solo final de arrasar de Ryo, novamente tendo acessos de Keith Emerson. Tudo isso com a nova roupagem sonora que a banda apresenta; em "Same Old Story", Alan mantém o riff estilo Foo Fighters e Nick começa a contar a história de Sid, um garoto que ninguém gostava, mas que costumava ser um cara normal, que subitamente se tornou inimigo público n° 1, mas que acaba encontrando seu caminho no fim. Ao meio desta parte, um arranjo meio Yes com um peso extra; em "You Don't Know", a banda vai mais devagar, soando como Marillion, mas em algumas partes lembrando os arranjos que o King Crimson costuma fazer em discos como Red; em "Judge", mandam arranjos vocais a lá Yes (quem disse que não iria ter?), mas não só os arranjos vocais, eles soam como um Yes mais pesado, algums passagens até lembram Tales From The Topographic Oceans. Ao final, um instrumental belíssimo e bem naquele estilo que a banda vinha fazendo com Neal; em "Sid's Boys Choir", os vocais arranjados ao estilo Yes, muito bem sincronizados e com uma malha vocal fantasticamente bem trabalhada, e ao comando vocal de Nick, vamos para a última parte, "Change", novamente a intro funkeada, com Alan fazendo riffs fortes e agressivos, a banda repete fragmentos de "Same Old Story" e "Judge", caindo em um final épico, bombástico e maravilhoso.

A última faixa do disco, "Carry On" provém das influências folk de um Caravan, uma faixa simplesmente maravilhosa, bem naquele esquema que eles vinham seguindo com Neal, e um solo bem sentimental de Alan. Excelente música pra se fechar um disco, simplesmente maravilhosa! O disco na versão normal acabou, mas a versão digipack contém duas faixas extras, uma bem legal e outra mais ou menos, a acústica, "Moth Of Many Flames", daquelas pra curtir e tocar com os amigos no violão, e uma composta por Ryo, "From The Messenger", que começa com uns efeitos de espaçonave e uma voz robótica (estaríamos dentro da nave do Spock?), com Ryo mostrando suas influências de Rick Wakeman em melodias cósmicas e bonitas, mas meio parada, sem muita dinâmica. Por vezes você acha que vai começar "Journey To The Centre Of The Earth", mas não chega a tanto.

Com este disco mais recente, o Spock's Beard tenta achar o casamento perfeito entre o progrock setentista e a música contemporânea, o que com certeza não é uma má idéia, já que o estilo está precisando se revigorar ultimamente. Apesar de algumas idéias fluírem e outras nem tanto, é um bom resultado, mas o épico "A Guy Named Sid" sozinho é a estrela mais brilhante deste disco. Com Nick fazendo a manobra Phil Collins, creio que teremos mais duetos de bateria em shows de progressivo com o baterista de turnê Jimmy Keegan. Leva um tempo pra se acostumar, assim como foi na época do Genesis, mas acho que os caras vão achar o seu caminho. Que a estrada da banda seja iluminada com bons acontecimentos, após essas mudanças!

Feel Euphoria (2003)
(Spock's Beard)
Nota: 8,5 / 10

Tracklist:
01. Onomatopoeia
02. The Bottom Line
03. Feel Euphoria
04. Shining Star
05. East of Eden, West of Memphis
06. Ghosts of Autumn
(A Guy Named Sid)
07. I. Intro
08. II. Same Old Story
09. III. You Don't Know
10. IV. Judge
11. V. Sid's Boys Choir
12. VI. Change
13. Carry On
Faixas bonus da versão special edition:
14. Moth of Many Flames
15. From the Messenger

Selos: InsideOutMusic

Spock's Beard é:
Nick D'Virgilio: voz principal, bateria, percussão, violão, guitarra e loops
Alan Morse: guitarra, voz
Dave Meros: baixo
Ryo Okumoto: teclado

Discografia:
Noise Floor (2018)
The First Twenty Years (2015) - compilação
The Oblivion Particle (2015)
Brief Nocturnes and Dreamless Sleep (2013)
- X (2010)
- Spock's Beard (2006)
- Octane (2005)
- Feel Euphoria (2003)
Don't Try This At Home & The Making Of V (2002) - DVD
Snow (2002)
V (2000)
Day for Night (1999)
The Kindness of Strangers (1998)
Beware of Darkness (1996)
The Light (1995)

Site oficial: www.spocksbeard.com

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